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PROVOCAÇÃO
Quer provocar um homem? Eu sei como. Foram alguns anos de experiências, entre descobertas casuais e esforços focados em alvos bem definidos. Enfim, cheguei a uma fórmula, meio assim como uma função matemática, talvez um teorema, ou um algoritmo, eu acho, eu não entendo muito de matemática...
Deixe-me refazer a pergunta: quer provocar um homem com poucas palavras, pouco esforço, garantia de êxito a curto e longo prazo? Pois é isso que eu vou ensinar.
Basta uma frase; porém, tem de ser dita com confiança, a voz tem que ter ousadia. E é preciso cravar o olhar lá dentro do olho do cara a quem você vai provocar. Pode ser no meio de uma discussão, entre uma piada e outra, com seu melhor amigo, com um desconhecido, com seu chefe ou seu estagiário, com brasileiro ou com gringo. Assim como os truques de circo, minha fórmula é universal.
Arranjada a situação, você diz pra ele, firmeza em cada palavra: “Eu como você na hora que eu quiser!”
É tiro e queda! O cara, não importa quem seja, pode ser até um monge asceta, se revira dentro de si mesmo. O efeito é o mesmo de botar os órgãos internos para ferver em uma panela. Já fiz o teste “n” vezes; nunca falhou! Pensa você, se um outro cara chega, na moral, e fala que te come na hora que ele quiser. É possível ficar indiferente?
Tudo que você precisa em termos de provocação está ali. É óbvio, dá pra ver só na malandragem, mas também tem uma lógica [lógica é português ou matemática?]. De cara, você já mexe com o brio do outro, porque ele está na frase, mas não é o sujeito. Eu sei que parece besteira sintática, mas que todo mundo que ser o dono do verbo, isso quer, não tem como negar! Até porque se você não for o sujeito, vira objeto, aí complica pro seu lado, pois ser objeto tem implicações mais arriscadas.
A ideia é mais linguística do que matemática, eu diria. É uma questão semântica, até mesmo porque há que se mencionar que, na frase, o que está em questão entre as duas pessoas envolvidas é comer. Comer o cu.
Aí entra o drama do resto da frase. Você joga em cima do cara duas responsabilidades: a de ficar alerta, já que você falou que pode comê-lo a qualquer instante; e a de se ver subordinado, porque se é na hora que você quer é porque você tem domínio sobre ele. Então imagina isso, você implicando com os sentidos mais primitivos de um homem: o de sobrevivência e o de poder. Impossível resistir.
Como cada um vai reagir, já é outra história; mas todos reagem, na hora, não tem como esconder. Uns ficam putos, uns excitados, uns envergonhados, outros indignados, outros magoados, depende de outras coisas envolvidas. Agora, se você for colocar na ponta do lápis, no final, o resultado vai ser sempre negativo. É que não importa a circunstância em que essa frase seja dita, ela é sempre mentirosa. E ninguém recebe bem uma mentira [que mentira? que verdade?] sobre si mesmo – entre outras coisas.
É mentira. Seria bom se fosse verdade, se você pudesse chegar pra um cara qualquer e ter mesmo o poder de fodê-lo na hora que você bem entender. Mas não é assim. Ninguém tem esse poder todo.
A frase funciona, pode testar. Não tem erro. Se tiver – ainda que eu duvide – pode me desafiar, porque aí eu invento outra, outra versão dessa, mais aperfeiçoada, mais matemática. Se tem uma coisa que eu sei fazer bem é provocar!
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