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Desde menino teve um corpo bem talhado. Tinha pouca gordura, os músculos podiam ser vistos em seu volume sob a pele. O corpo de Heitor era desejado de muitas maneiras. Uns gostariam de tê-lo, outros, de possuí-lo. A prática de esportes, vários, durante sua adolescência, fê-lo encorpar-se: coxas, braços, peitoral, abdômen. Heitor era uma escultura, como um herói, um troiano.
A queixa de Heitor, a si mesmo, era sobre seu corpo desproporcional. Quando se colocava nu diante do espelho, sentia-se como as esculturas renascentistas, que reproduziam deuses e mortais com seus pênis minúsculos. No entanto, apesar da frustração e indignação com a natureza, Heitor desfez-se do incômodo com uma solução bem matemática, bem prática: se tenho pouco, preciso de mais; se este não me basta, arranjo mais um.
Diversão e desafio para Heitor passaram a ser suas caçadas, suas estratégicas caçadas por outros pênis. Como sabia bem, só havia um jeito de ter certeza sobre um pênis: acariciando-o. Alturas, dedos, orelhas, narizes, o volume nas calças, o desenho do corpo; nada disso era indicativo confiável. Para encontrar pênis grandes, grossos, que pudessem completar a pequenez do seu próprio, só dava crédito aos seus olhos colocados sobre eles, duros, porque flácidos também poderiam enganar.
É claro que tanta pesquisa rendeu a Heitor muito prazer, muita dor de cabeça e uma boa fama, pois adquiriu vasta experiência para manipular e gozar com o pênis alheio. Nas repetidas buscas por outros pênis, nos insistentes encontros com a excitação dos homens, acabou achando todos eles muito parecidos, muito parecidos com o seu próprio, aquele que não lhe era suficiente. Foi enquanto transitava por esse pensamento, que não tinha bem uma forma de pensamento, nem sequer de palavra, que conheceu Durval.
O Durval era dono de um pênis digno de adoração. Às vezes, Heitor buscava em sua memória a primeira imagem de um pênis perfeito, e sua imaginação lhe apresentava um pênis exatamente como o de Durval: longo, largo. Tinha todos os detalhes da excelência, o branco rosado da pele, a forma da glande, a firmeza das veias, o peso do saco, os poucos e claros pêlos ao redor; poderia ser emoldurado e colocado em exposição. Poderiam referir-se ao pênis de Durval como o pênis modelo, como todos deveriam ser; o pênis original; o pênis ideal; o pênis platônico! Viva!
É que Durval também acalentava um desejo parecido com o de Heitor. Aquele maravilhoso pênis que ia dependurado em si tornou-se seu tesouro, sua arma, seu melhor amigo. E assim como todos os tesouros são sempre insatisfatórios, como todas as armas são também impotentes e como todos os melhores amigos não podem dar conta, o querido pênis de Durval também lhe parecia insuficiente.
Heitor e Durval, que se cruzaram na banal saga do pênis perdido, decidiram – pela razão – que trilhariam juntos o restante da jornada. O encanto pelo pênis dos outros passou. Não, não foi bem isso... não passou. Depois que se tiveram, como homens, cresceram outros encantos: queriam se apossar de outras bundas, outras pernas, outros pés, outras mãos, outras bocas, outras línguas, outros pênis... ainda assim. Careciam, acima de qualquer desejo, de outras histórias, porque a história de um só nunca é suficiente.
Em conversas consigo mesmos, ou entre si, ou com os outros, Heitor e Durval reafirmavam que eram loucos por pênis. Mas ao ouvirem suas próprias palavras, desconfiavam que eram, na verdade, fascinados pelas coisas inteiras, pela ideia de que algo pode ser completado. E, se repetissem muito aquela ideia, acabavam sonhando com ela.
Heitor sonhava Durval.
Durval sonhava Heitor.
MAIS UM
Desde menino teve um corpo bem talhado. Tinha pouca gordura, os músculos podiam ser vistos em seu volume sob a pele. O corpo de Heitor era desejado de muitas maneiras. Uns gostariam de tê-lo, outros, de possuí-lo. A prática de esportes, vários, durante sua adolescência, fê-lo encorpar-se: coxas, braços, peitoral, abdômen. Heitor era uma escultura, como um herói, um troiano.
A queixa de Heitor, a si mesmo, era sobre seu corpo desproporcional. Quando se colocava nu diante do espelho, sentia-se como as esculturas renascentistas, que reproduziam deuses e mortais com seus pênis minúsculos. No entanto, apesar da frustração e indignação com a natureza, Heitor desfez-se do incômodo com uma solução bem matemática, bem prática: se tenho pouco, preciso de mais; se este não me basta, arranjo mais um.
Diversão e desafio para Heitor passaram a ser suas caçadas, suas estratégicas caçadas por outros pênis. Como sabia bem, só havia um jeito de ter certeza sobre um pênis: acariciando-o. Alturas, dedos, orelhas, narizes, o volume nas calças, o desenho do corpo; nada disso era indicativo confiável. Para encontrar pênis grandes, grossos, que pudessem completar a pequenez do seu próprio, só dava crédito aos seus olhos colocados sobre eles, duros, porque flácidos também poderiam enganar.
É claro que tanta pesquisa rendeu a Heitor muito prazer, muita dor de cabeça e uma boa fama, pois adquiriu vasta experiência para manipular e gozar com o pênis alheio. Nas repetidas buscas por outros pênis, nos insistentes encontros com a excitação dos homens, acabou achando todos eles muito parecidos, muito parecidos com o seu próprio, aquele que não lhe era suficiente. Foi enquanto transitava por esse pensamento, que não tinha bem uma forma de pensamento, nem sequer de palavra, que conheceu Durval.
O Durval era dono de um pênis digno de adoração. Às vezes, Heitor buscava em sua memória a primeira imagem de um pênis perfeito, e sua imaginação lhe apresentava um pênis exatamente como o de Durval: longo, largo. Tinha todos os detalhes da excelência, o branco rosado da pele, a forma da glande, a firmeza das veias, o peso do saco, os poucos e claros pêlos ao redor; poderia ser emoldurado e colocado em exposição. Poderiam referir-se ao pênis de Durval como o pênis modelo, como todos deveriam ser; o pênis original; o pênis ideal; o pênis platônico! Viva!
É que Durval também acalentava um desejo parecido com o de Heitor. Aquele maravilhoso pênis que ia dependurado em si tornou-se seu tesouro, sua arma, seu melhor amigo. E assim como todos os tesouros são sempre insatisfatórios, como todas as armas são também impotentes e como todos os melhores amigos não podem dar conta, o querido pênis de Durval também lhe parecia insuficiente.
Heitor e Durval, que se cruzaram na banal saga do pênis perdido, decidiram – pela razão – que trilhariam juntos o restante da jornada. O encanto pelo pênis dos outros passou. Não, não foi bem isso... não passou. Depois que se tiveram, como homens, cresceram outros encantos: queriam se apossar de outras bundas, outras pernas, outros pés, outras mãos, outras bocas, outras línguas, outros pênis... ainda assim. Careciam, acima de qualquer desejo, de outras histórias, porque a história de um só nunca é suficiente.
Em conversas consigo mesmos, ou entre si, ou com os outros, Heitor e Durval reafirmavam que eram loucos por pênis. Mas ao ouvirem suas próprias palavras, desconfiavam que eram, na verdade, fascinados pelas coisas inteiras, pela ideia de que algo pode ser completado. E, se repetissem muito aquela ideia, acabavam sonhando com ela.
Heitor sonhava Durval.
Durval sonhava Heitor.
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