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PRESSA
Os e-mails que chegaram por último não foram respondidos nem terminei de arrumar minha mesa como geralmente faço nem vi o computador se desligar desci correndo as escadas estava ansioso demais para esperar o elevador joguei tudo pra dentro do carro fui logo dando a partida para poder pegar a balsa das seis da tarde fiz várias manobras para colocar o meu carro à frente dos outros a fim de poder partir tão logo as cancelas fossem abertas acelerei pelas ruas fiz na contramão o último trecho antes de chegar em casa o correto seria fazer a volta no quarteirão mas essa opção me tomaria preciosos minutos o portão eletrônico subia eu avançava garagem adentro ao mesmo tempo em que desligava o som e fechava os vidros a agitação quase me atrapalhou a achar a chave certa e encaixá-la na porta não seria esse último empecilho que me retardaria.
Finalmente eu estava em casa. A casa que era minha e de meu amado.
Meu amor, por quem eu tanto corria, meu homem, só chegaria daí a duas horas.
Entretanto, parte da minha alegria, da excitação, estava na expectativa, na espera, no ponteiro, vagaroso, do relógio. Eu tomei meu banho, demorado, raspei o peitoral, como ele gosta, mas deixei a barba. Separei o vinho, o de sempre, deixei tudo preparado para o macarrão, para depois, e troquei o galão de água do filtro. Procurei o livro entre as almofadas, no sofá, e, achando-o, tomei seu lugar, deitado, para continuar a leitura. Logo parti para a Arábia, no livro, conheci outro homem, a princípio, e decidi que ele era bom, como personagem. Parei, refleti, sonhei, voltei para o livro, depois, realmente, para o sofá. Voltei à cozinha, comi uma maçã, das verdes, e, então, voltei ao banheiro, escovei os dentes, e voltei, mais uma vez, à sala. A qualquer hora, a partir de agora, ele poderia voltar, chegar.
Agora.
Agora.
Agora.
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