(para saber mais sobre o projeto "Destruído está este coração", clique aqui)
PARTE III
Fim: morra logo
Não há avesso
para o que você fez comigo.
Vou precisar
conjurar uma palavra
para que ela - a palavra -
conjure este lugar:
meu avesso; o meu.
Há língua para salvar um homem de se afogar em si mesmo?
Eu preciso ensinar algo
a este universo preguiçoso!
+++
como
destruí-lo?
- palavras.
+++
Para que me amaldiçoar?
Por que a ameaça de uma lâmina?
Confias mesmo em maldizer meu nome?
O que me feriu
foram os dias
os dias
os dias ao teu lado.
+++
conquistaste-me
ou compraste-me?
convidaste-me
ou compeliste-me?
compreendeste-me
ou compuseste-me?
comparsa ou
com farsa?
comigo ou
com seu umbigo?
+++
Desse caso,
sobrou seu descaso.
Da nossa vida,
incurável ferida.
Das tardes de loucura,
somente amargura.
Da nossa aliança,
desejo de vingança.
você é um ladrãozinho
de merda.
+++
meu novo namorado
faz tortas
e eu as como pensando em você:
a de limão
tem o gosto do seu pescoço.
a de abóbora
a consistência do seu olhar.
não como a de maçã,
meu querido,
porque essa me faz vomitar.
+++
Já cheguei cuspindo.
Na cara,
porque cuspe ou é da boca
ou é dos olhos.
Ele demorou uns
cinco
talvez sete
segundos para limpar com as mãos
a gosma.
Saí de lá
coberto de razão.
+++
você cagou em mim.
agora
tenho cheiro de bosta.
+++
NÃO
DESPERDICE
minha
porra!
+++
O teu tempero
é gostoso
de fato.
Salgado e picante.
Mas desde que me tornei alérgico
te risquei da minha dieta.
Não, não é precaução.
Já é antídoto.
+++
Não comemore.
O jogo ainda não acabou.
Eu sou o seu adversário,
seu incansável adversário.
Perderei quantas vezes o universo comandar.
Até chegar minha vez
de ganhar.
+++
Ontem morreram 18 pessoas no engavetamento.
É pouca gente para o mundo;
é muita gente que sonha.
Para mim,
não é nada:
você continua vivo.
+++
A saudade foi tanta
que enfiei meu dedo
na tomada - outra vez!
O choque me traz você,
isso não tem erro.
+++
falo sério
quando afirmo categoricamente
que há um deus de mitologia desconhecida
brincando com nosso amor.
de que outra forma
eu seria capaz
de ainda
olhar
pra você?
+++
você não me respondeu
você nem sequer me respondeu
encurtou nosso caminho
com tesoura leviana
+++
para me despedir
de você
vou vestido de esquimó.
+++
não me arremesse
de longe
esse seu perdão.
venha até aqui
e mo
entregue na mão.
porque assim
atirado
chega como bala de canhão.
+++
Indiscutível!
Terei de matar-te com guilhotina!
Teu rosto é uma pintura!
Ou, quem sabe,
antes da lâmina,
agracio-te com uma queimadura?
+++
São dois átomos de hidrogênio,
quatro de oxigênio,
e apenas um,
um somente,
unzinho, amor:
um átomo de enxofre.
Beba devagar,
com cautela,
esse queima-goela,
esse meu rancor.
+++
eu lhe pedi um temporal
mas você me deu uma ducha.
+++
Eu queria ter vivido
nos anos 20.
Lá, não havia você.
+++
Nunca simpatizei
com a sua mãe.
Deve ser culpa sua.
+++
juro-te, amor,
nunca mais falarei
teu nome
em voz alta.
+++
Vou te deletar
já que você é só um arquivo.
Por favor,
computador,
não me pergunte se
eu tenho certeza.
+++
metáfora perfeita?
as rodas de um caminhão
sobre o meu peito.
+++
não se mata
uma mariposa;
é mau agouro na certa.
mas o seu voo
imprevisível
me irrita,
me consome.
prefiro ter azar
a ter você.
+++
páginas
e mais páginas...
não abri mão
de uma sequer:
esse é seu preço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário