O QUE EU SEI SOBRE AS DISTÂNCIAS

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o que eu sei sobre as distâncias


O que eu sei sobre as distâncias esbarra em uma palavra: saudade. Pretensiosamente, os lusófonos cantam sua singularidade: “Não há, senão na língua portuguesa, vocábulo tão significativo como saudade!” É isso: creem que “saudade” diz muita coisa.

Eu discordo. Outras línguas podem não dizer o nome, mas dizem o verbo: e no princípio era o verbo, e o verbo disse “Luz”, e só então houve a luz: verbo; nome; coisa. Em inglês: "I miss you". Em francês: "Je manque de toi". Em espanhol: "Te extraño". Em português: "Sinto sua falta". Falta um verbo, um verbo que diga que algo falta, ou que a falta há. Parecem dizeres próximos, mas a distância nunca será vencida. Como escreverei em uma língua que se nega a ser um verbo que fala sobre a ausência? Como? se ela cala justamente o que eu quero dizer. 

Aceito que “saudade” seja uma palavra especial. Não porque diga o indizível, mas porque, ela própria, a palavra, sente falta.





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