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Seria o mais improvável dos homens em sua cama, se não fosse pelo cheiro do abacaxi. Era pobre, sujo, amarelo, feio, grande, fedido: tudo o que ele odiava desde a infância. Trajava-se de modo ainda mais repulsivo, sempre de chinelos, bermudas cinzas e regatas velhas. E era um vagabundo, dos piores, disfarçado de trabalhador. Sentava-se na esquina com o amontoado de abacaxis, mas era tão antipático e grotesco que não inspirava compra alguma.
No entanto, chamou a atenção de Rafael, limpo como ele só. Passava por ele e entrava-lhe pelas narinas o doce melado do abacaxi e o suor quente do vendedor. Rafael o achava tosco, mas parou para comprar o abacaxi, e logo comprava abacaxis, e comia, e logo comia e se lembrava do tosco homem, e se viu conversando com o tal, e logo estavam em sua casa, na cama, fodendo.
O tosco sussurrava: “putinha, minha branquinha, boneca”. E pedia suas confirmações: “gosta da minha vara? quer chupar? vira essa bundinha! rebola! você delira, né, viadinho? toma o leitinho, toma!”. Depois das fodas, Rafael tinha raiva dessa conversa humilhante. Tinha aprendido a ser homem, mas aquele troglodita não entendia o que era ser homossexual. Ainda assim, houve semana de transarem todos os dias, mais de uma vez. Tremiam de prazer, ambos.
Na palestra na faculdade de medicina, Rafael ouviu que o olfato é déspota e que não se vê negado nunca. O ser humano é impotente aos cheiros, que fazem o córtex se dobrar, como uma putinha, diante de forças primitivas. O único sentido indomável, impassível de racionalização.
De longe, viu aquele encardido inútil que sabia odiar. Estava na esquina com seus abacaxis, e logo que se aproximou, quis morder o braço e lamber o suor das axilas e enfiar a mão dentro da bermuda e apertar o pau e esfregar seu rosto na sujeira. Racionalizava, desde a descoberta, que era efeito do abacaxi, o perfume da fruta. “Mas por que o abacaxi?”, era sua dúvida. Não se lembrava de ter tanto tesão por abacaxi.
ABACAXI
Seria o mais improvável dos homens em sua cama, se não fosse pelo cheiro do abacaxi. Era pobre, sujo, amarelo, feio, grande, fedido: tudo o que ele odiava desde a infância. Trajava-se de modo ainda mais repulsivo, sempre de chinelos, bermudas cinzas e regatas velhas. E era um vagabundo, dos piores, disfarçado de trabalhador. Sentava-se na esquina com o amontoado de abacaxis, mas era tão antipático e grotesco que não inspirava compra alguma.
No entanto, chamou a atenção de Rafael, limpo como ele só. Passava por ele e entrava-lhe pelas narinas o doce melado do abacaxi e o suor quente do vendedor. Rafael o achava tosco, mas parou para comprar o abacaxi, e logo comprava abacaxis, e comia, e logo comia e se lembrava do tosco homem, e se viu conversando com o tal, e logo estavam em sua casa, na cama, fodendo.
O tosco sussurrava: “putinha, minha branquinha, boneca”. E pedia suas confirmações: “gosta da minha vara? quer chupar? vira essa bundinha! rebola! você delira, né, viadinho? toma o leitinho, toma!”. Depois das fodas, Rafael tinha raiva dessa conversa humilhante. Tinha aprendido a ser homem, mas aquele troglodita não entendia o que era ser homossexual. Ainda assim, houve semana de transarem todos os dias, mais de uma vez. Tremiam de prazer, ambos.
Na palestra na faculdade de medicina, Rafael ouviu que o olfato é déspota e que não se vê negado nunca. O ser humano é impotente aos cheiros, que fazem o córtex se dobrar, como uma putinha, diante de forças primitivas. O único sentido indomável, impassível de racionalização.
De longe, viu aquele encardido inútil que sabia odiar. Estava na esquina com seus abacaxis, e logo que se aproximou, quis morder o braço e lamber o suor das axilas e enfiar a mão dentro da bermuda e apertar o pau e esfregar seu rosto na sujeira. Racionalizava, desde a descoberta, que era efeito do abacaxi, o perfume da fruta. “Mas por que o abacaxi?”, era sua dúvida. Não se lembrava de ter tanto tesão por abacaxi.
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