ENFIADOS

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ENFIADOS 



Nolan e Joseph foram companheiros de cela durante 3 anos, 6 meses e 5 dias. Nolan foi o primeiro a deixar a prisão. 2 anos e 9 dias depois, foi a vez de Joseph.

Quando saiu com seu advogado, Joseph respirou aliviado ao ver que Nolan o esperava com seu Audi vermelho do lado de fora, como havia prometido.

O tempo que passaram juntos, tão próximos, os abençoou com uma amizade sincera, das que abrem caminho para o passado e para o futuro. Além das conversas e cumplicidades, aproveitaram-se em incontáveis transas, pois tinham muita afinidade também para o sexo. Conheceram-se já detrás das grades e só depois de saberem um sobre o outro foi que entenderam que poderiam gozar mutuamente de corpos tão disponíveis.

A experiência vivida por eles é das mais antigas e conhecidas da humanidade, em todas as culturas, pois é fato que todo povo arranja um jeito − comum ou particular – de ajuntar e isolar seus homens. São monastérios, quartéis, concentrações de times de futebol, navios, prisões, internatos, acampamentos, viagens. Cedo ou tarde, o isolamento de tudo o mais − especialmente das mulheres − dá-lhes a dica que existem outros caminhos a percorrer, outros buracos para se encaixar, outras libidos a provocar. Por isso é tão difícil confinar dois ou mais homens e evitar que eles se desejem, se entreguem; ou se mutilem: é quase impossível impedi-los de enfiarem a si mesmos uns nos outros. Se não a si mesmos, enfiam facas, ou olhares, ou ideias.

Nolan e Joseph viveram essa delícia de experiência. Enfiaram-se tudo: arrependimentos, histórias da infância, imaginações, fomes. Enfiaram-se os paus duros, as línguas, os dedos. Com felicidade, regozijaram-se ao descobrir que haviam se enfiado na alma um do outro, que alguns chamam de cabeça, outros de coração.

O amontoado de homens, que acaba por acender tantos desejos de enfiar, pode se dar em qualquer lugar, mas acontece primeiro nas solitárias da alma. Começa lá, termina lá.

Enfiados, Nolan e Joseph, permaneceram juntos por muito tempo, em muitos modos.

Bom para eles.





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Um comentário:

  1. Profundamente filosófico
    e deliciosamente libidinoso...
    Como concilia coisas tão atávicas,
    subjetivas e imperiosas
    assim... ?
    Em algo tão literariamente amalgamado?

    Delícia de texto!
    Adriana Barata

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