BRINDE

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BRINDE


“Eu gostaria de propor um brinde! Um brinde a ele que é o motivo dessa nossa nem tão modesta reunião de família e, é claro, de queridos amigos.

“Mas antes de brindar à sua saúde, eu gostaria de contar um pouco da minha história e da história de meu genro, Cristiano. Há mais de 25 anos atrás, minha única filha, Amália, apareceu-me em casa com um rapaz franzino e muito bem vestido. Obviamente, ela não me contou quais eram suas intenções, dizendo-me que era apenas um amigo. Os dois foram ao cinema, à matinê e voltaram antes de ser servido o jantar. O rapaz recusou o convite para cear conosco, como era de bom tom, mas antes de ir para casa, pediu-me um momento para ter um particular. Longe de Amália e de sua mãe, que foram tomadas de um nervosismo incomum ao pedido do rapaz, fui informado de suas intenções com minha filha. O rapaz adiantou-me que não sabia se o sentimento era recíproco, mas que não gostaria de frequentar minha casa se eu não soubesse da verdadeira natureza de seus sentimentos por minha filha.

“Já naquele dia nascia minha admiração pelo jovem Cristiano! É verdade. Eu percebi que estava diante de mim um rapaz educado e de boa índole, com uma inclinação natural para se fazer um grande homem. Durante os três anos em que cortejou e namorou minha filha, Cristiano sempre se mostrou interessado em nossa família e em nossos valores. Por vezes, mesmo na ausência de Amália, vinha visitar-me e nos dispúnhamos a boas horas de conversas saudáveis e instrutivas. Foi com emoção e, admito, acariciado pela própria vaidade, que recebi a notícia de que Cristiano também seguiria a carreira jurídica, no que pude ver claramente minha influência.

“Depois do casamento dos dois apaixonados, nossa amizade apenas ganhou mais profundeza e intensidade. No primeiro ano de casados, Cristiano e Amália moraram junto conosco, momento em que pude também lhe ser conselheiro nas questões maritais. Mesmo depois da mudança do casal para outra vizinhança, nosso laço sincero de companheirismo não se afrouxou. Pelo contrário, à morte do inestimável Sr. Severino, pai do meu querido genro, senti-me incumbido de zelar por ele como por um filho.

“Como se não bastasse minha admiração pelo homem que havia agregado tanto valor à nossa família, passei então a admirar o profissional. O advogado Cristiano muito cedo impressionou a todos com sua disciplina no trabalho e sua inteligência apurada, sempre com soluções precisas e inusitadas, mesmo nos casos mais difíceis. Com seu talento, deu prestígio ao escritório em que trabalhávamos e logo foi feito sócio, fazendo justiça aos seus méritos. Se posso lhe dizer alguma coisa hoje, meu genro, digo-lhe humildemente que o discípulo superou seu mestre.

“E lamento que só o tenha visto ser pai depois de já ter criado minha filha, pois o vendo em sua relação carinhosa com meus netos, aprendi também sobre a completude de sua sabedoria, habilidoso e incansável em sua crença de educar com firmeza e amabilidade, exemplo a ser seguido por qualquer pai que se preza. E sei que falo por todos nós quando o homenageio com essas palavras, pois desconheço, Cristiano, um homem que goze de tamanha apreciação de familiares, amigos e de outros tantos do que você, meu genro, do qual tenho orgulho de dizer que sou aparentado. Digo ainda mais, pois agora posso compreender que, desde o momento em que nos conhecemos, eu já estava sendo apresentado a um vínculo de natureza especial, um vínculo que é capaz de unir dois homens pela eternidade.

“E por fim, pedindo a todos as devidas desculpas por delongar nossa espera pelo jantar e também pelo discurso contaminado da inevitável formalidade dos advogados, saúdo esse grande homem, esse exemplo de homem, Cristiano, meu genro, meu amigo, meu filho!

“Saúde!”





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