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AO LEITOR
“E um dos indiretos modos de entender é achar bonito.”
Clarice Lispector
“Pois só como fenômeno estético podem a existência e o mundo justificar-se eternamente.”
Friedrich Nietzsche
A obra que aqui apresento tem duas pretensões bem claras.
A primeira delas é tentar entender este fenômeno que atravessa a história da humanidade: a homossexualidade. Não é uma tentativa isolada. Desde as civilizações mais antigas, filósofos, escritores, religiosos, cientistas e uma outra diversa gama de pensadores dedicaram tempo e energia na tentativa de entender e localizar esse comportamento na alma e no intelecto do homem. Portanto, esta é apenas mais uma empreitada nessa direção. Para o que se aventura nessa mesma jornada, há caminhos possíveis na genética, na medicina, na psicanálise, na sociologia, nas teologias, enfim, não faltarão atalhos para o imaginado saber final. Bom destino também terá o curioso que buscar ferramentas na literatura, que já explorou este assunto por diversos ângulos. Juntando-me a estes últimos, que veem na arte da escrita uma forma de encontro com o que é real, a via que aqui proponho é inspirada pelas conhecidas palavras de Clarice Lispector que servem de introito a este texto — o entendimento advindo da fruição, da apreciação.
Os contos que se seguem, mais do que articulações lógicas ou metodológicas, são exposições. O desejo é buscar o olhar absoluto que, antes de levantar perguntas e elucubrações, investe no ato em si mesmo, no acontecimento, no que existe. Acredito — de corpo e alma — que este é um caminho possível de entendimento. Mais do que isso, creio que este é um modo apropriado de abordar a homossexualidade, que é um sujeito largo, enorme, e, como todas as coisas excessivamente grandes (como o céu, o mar, o tempo), nos inclina a desistir das reflexões complexas, sempre incapazes. No entanto, nos convida a ceder ao que não requer tamanho esforço: apenas admirar.
A segunda pretensão desta obra é egoística e passa pela ordinária via da justificação. A insistência em escrever tantas palavras sobre o mesmo tópico vem da vontade de criar volume, de fazer aparecer, de mostrar-se, de mostrar-me. Desta maneira, acredito estar salvaguardando o direito de existir e de ter pretexto para existir — se o que Nietzsche nos fala a respeito da justificação for plausível.
Deste modo, os muitos contos e episódios aqui encerrados não tecem um panorama completo e complexo sobre o comportamento homossexual. Ao contrário, estão encarcerados por minha experiência, que vem de uma homossexualidade escondida, lenta, masculina, fantasiosa, proveitosa (prometa-me, leitor, acrescentar outros adjetivos).
O trocadilho do título* faz também referência ao homem que sabe, ou que insiste em saber. As histórias que ofereço foram atadas por pequenos manifestos, que clamam, ainda que inutilmente, por alguma certeza sobre o que atestam. Em minha defesa, peço que não os levem tão a sério, pois nem eu mesmo dei conta de não desmenti-los.
Com a esperança de não ter feito uso abusivo da primeira pessoa do singular, entrego a você, leitor, um pedaço de mim. Um pedaço sincero. Um pedaço expectativo.
Um pedaço bonito.
Um pedaço bonito.
Ulisses Belleigoli
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* Esse texto foi escrito quando o projeto original ainda era a edição um livro, cujo título seria Homo Sapiens. O acréscimo do Erectus veio somente no projeto do blog. Vale ressaltar que esse texto não viria no início da publicação, mas inserido no marcador o que eu sei sobre os prefácios.
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